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Capítulo 26 de 28

1Quando Jesus acabou todos esses discursos, disse a seus discípulos:

2“Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será traído para ser crucificado”.

3Então, os príncipes dos sacer­dotes e os anciãos do povo reuniram-se no pátio do sumo sacerdote, chamado Caifás,

4e deliberaram sobre os meios de prender Jesus por astúcia e de o matar.

5E dizi­am: “Sobretudo, não seja durante a festa. Poderá haver um tumulto entre o povo”.

6Encontrava-se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso.

7Estando à mesa, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, cheio de perfume muito caro, e derramou-o na sua cabeça.

8Vendo isso, os discípulos disseram indignados: “Para que este desperdício?

9Poderia vender este perfume por um bom preço e dar o dinheiro aos pobres”.

10Jesus ouviu-os e disse-lhes: “Por que molestais esta mulher? É uma ação boa o que ela me fez.

11Pobres vós tereis sempre convosco. A mim, porém, nem sempre me tereis.

12Derramando esse perfume em meu corpo, ela o fez em vista da minha sepultura.*

13Em verdade eu vos digo: em toda parte onde for pregado este Evangelho pelo mundo inteiro, será contado em sua memória o que ela fez”.

14Então, um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e perguntou-lhes:

15“Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei”. Ajustaram com ele trinta moedas de prata.*

16E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus.

17No primeiro dia dos ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: “Onde queres que preparemos a ceia pascal?”.*

18Respondeu-lhes Jesus: “Ide à cidade, à casa de um tal, e dizei-lhe: O Mestre manda dizer-te: Meu tempo está próximo. É em tua casa que celebrarei a Páscoa com meus discípulos”.

19Os discípulos fizeram o que Jesus tinha ordenado e prepararam a Páscoa.

20Ao declinar da tarde, pôs-se Jesus à mesa com os doze discípulos.

21Durante a ceia, disse: “Em verdade vos digo: um de vós me há de trair”.

22Com profunda aflição, cada um começou a perguntar: “Sou eu, Senhor?”.

23Respondeu ele: “Aquele que pôs comigo a mão no prato, esse me trairá.

24O Filho do Homem vai, como dele está escrito. Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Seria melhor para esse homem que jamais tivesse nascido!”.

25Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: “Mestre, serei eu?”. “Sim” – disse Jesus.

26Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: “Tomai e comei, isto é meu corpo”.

27Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: “Bebei dele todos,

28porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados.*

29Digo-vos: doravante não beberei mais desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no Reino de meu Pai”.

30Depois do canto dos Salmos, dirigiram-se eles para o monte das Oliveiras.

31Disse-lhes então Jesus: “Esta noite serei para todos vós uma ocasião de queda; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas (Zc 13,7).

32Mas, depois da minha Ressurreição, eu vos precederei na Galileia”.

33Pedro interveio: “Mesmo que sejas para todos uma ocasião de queda, para mim jamais o serás”.

34Disse-lhe Jesus: “Em verdade te digo: nesta noite mesma, antes que o galo cante, três vezes me negarás”.

35Respondeu-lhe Pedro: “Mesmo que seja necessário morrer contigo, jamais te negarei!”. E todos os outros discípulos diziam-lhe o mesmo.

36Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: “Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar...*

37E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.

38Disse-lhes, então: “Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo”.

39Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia, não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres”.

40Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: “Então, não pudestes vigiar uma hora comigo...

41Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”.

42Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: “Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade!”

43Voltou ainda e os encontrou novamente dormindo, porque seus olhos estavam pesados.

44Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.

45Voltou, então, para os seus discípulos e disse-lhes: “Dormi agora e repousai! Chegou a hora: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores...

46Levantai-vos, vamos! Aquele que me trai está perto daqui”.

47Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos Doze, e com ele uma multidão de gente armada de espadas e cacetes, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo.

48O traidor combinara com eles este sinal: “Aquele que eu beijar, é ele. Prendei-o!”.

49Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: “Salve, Mestre”. E beijou-o.

50Disse-lhe Jesus: “É, então, para isso que vens aqui?”. Em seguida, adiantaram-se eles e lançaram mão em Jesus para prendê-lo.

51Mas um dos companheiros de Jesus desembainhou a espada e feriu um servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha.

52Jesus, no entanto, lhe dis­se: “Embainha tua espada, porque todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão.

53Crês tu que não posso invocar meu Pai e ele não me enviaria imediatamente mais de doze legiões de anjos?

54Mas como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais é preciso que seja assim?”.

55Depois, voltando-se para a turba, falou: “Saístes armados de espadas e porretes para prender-me, como se eu fosse um malfeitor. Entretanto, todos os dias estava eu sentado entre vós ensinando no templo e não me prendestes.

56Mas tudo isto aconteceu porque era necessário que se cumprissem os oráculos dos profetas”. Então, os discípulos o abandonaram e fugiram.

57Os que haviam prendido Jesus levaram-no à casa do sumo sacerdote Caifás, onde estavam reu­nidos os escribas e os anciãos do povo.

58Pedro seguia-o de longe, até o pátio do sumo sacerdote. Entrou e sentou-se junto aos criados para ver como terminaria aquilo.

59Enquanto isso, os príncipes dos sacerdotes e todo o conselho procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de o levarem à morte.

60Mas não o conseguiram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas.

61Por fim, apresentaram-se duas testemunhas, que disseram: “Este homem disse: Posso destruir o Templo de Deus e reedificá-lo em três dias”.*

62Levantou-se o sumo sacerdote e lhe perguntou: “Nada tens a responder ao que essa gente depõe contra ti?”.

63Jesus, no entanto, permanecia calado. Disse-lhe o sumo sacerdote: “Por Deus vivo, conjuro-te que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus?”.

64Jesus respondeu: “Sim. Além disso, eu vos declaro que vereis doravante o Filho do Homem sentar-se à direita do Todo-poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu”.

65A essas palavras, o sumo sacerdote rasgou suas vestes, exclamando: “Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabastes de ouvir a blasfêmia!

66Qual o vosso parecer?”. Eles responderam: “Merece a morte!”.

67Cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e deram-lhe tapas,

68dizendo: “Adi­vinha, ó Cristo: quem te bateu?”. (= Mc 14,66-72 = Lc 22,55-62 = Jo 18,15-27)

69Enquanto isso, Pedro estava sentado no pátio. Aproximou-se dele uma das servas, dizendo: “Também tu estavas com Jesus, o Galileu”.

70Mas ele negou publicamente, nestes termos: “Não sei o que dizes”.

71Dirigia-se ele para a porta, a fim de sair, quando outra criada o viu e disse aos que lá estavam: “Este homem também estava com Jesus de Nazaré”.

72Pedro, pela segunda vez, negou com juramento: “Eu nem conheço tal homem”.

73Pouco depois, os que ali estavam aproximaram-se de Pedro e disseram: “Sim, tu és daqueles; teu modo de falar te dá a conhecer”.

74Pedro, então, começou a fazer imprecações, jurando que nem sequer conhecia tal homem. E, neste momento, cantou o galo.

75Pedro recordou-se do que Jesus lhe dissera: “Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes”. E saindo, chorou amargamente.